Foi realizado esta semana, na Fazenda San Francisco, em Miranda, a 236 km da Capital, um encontro inédito entre pecuaristas do Pantanal Sul e pesquisadores da onça pintada.
Com o tema "Conservação da Onça Pintada e a Pecuária Pantaneira", foram apresentados projetos de conservação da onça-pintada ao setor produtivo da pecuária, entidades de pesquisa e órgãos governamentais. O encontro foi realizado pelo Instituto Pró-Carnívoros e pelo WWF-Brasil, organizações não-governamentais de âmbito conservacionista.
O objetivo é utilizar o conhecimento científico para encontrar alternativas de produção sustentável nas fazendas pantaneiras que levem em conta a preservação do animal. A onça-pintada figura na lista oficial de animais em extinção do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (Ibama) e é considerada o maior felino das Américas e o terceiro mais rápido do mundo.
Desde o surgimento das fazendas de pecuária na planície pantaneira no século 19, a onça pintada, e também a parda, vem sendo consideradas pelos fazendeiros uma ameaça, devido à predação do gado. Porém, graças às pesquisas, notou-se que a pintada é a espécie que mais preda o gado. Nos últimos 20 anos, alguns projetos de conservação da espécie vêm sendo desenvolvidos para diminuir o conflito entre produtores e os animais.
Um destes projetos, chamado Gadonça, vem sendo desenvolvido na Fazenda San Francisco; outro projeto, denominado Onça Pantaneira, é desenvolvido na Fazenda São Bento. Os projetos são realizados através de parceria do Instituto Pró-Carnívoros e do Programa Pantanal para Sempre do WWF-Brasil e buscam entender melhor os diferentes fatores envolvidos na predação de animais domésticos e as possíveis formas de minimizar essas ocorrências.
O biólogo Fernando Azevedo, coordenador dos respectivos projetos, explanou aos participantes sobre a biologia da espécie, comportamento, padrões de predação e impactos sobre a pecuária. Os resultados da pesquisa são usados para buscar alternativas que possibilitem o desenvolvimento das atividades de pecuária paralelamente a conservação da onça-pintada no Pantanal.
O pecuarista Roberto Folley Coelho relatou sobre a experiência da criação de gado e os projetos de conservação da onça pintada em sua propriedade. O evento contou também com palestra de Ivens Domingos, analista de conservação do programa Pantanal para Sempre do World Wildlife Foundation (WWF-Brasil), de Ricardo Boulhosa, da Wildlife Conservation Society (WCS Brasil) e de Rogério Cunha de Paula, do Cenap/ICMBIO.
Participaram também da reunião membros da Secretaria de Estado do Meio Ambiente, das Cidades, do Planejamento, da Ciência e Tecnologia (Semac), Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (Imasul), Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (Cras), Polícia Militar Ambiental (PMA), Federação de Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso do Sul (Famasul), Embrapa Pantanal, Associação de Proprietários de Reservas Particulares do Patrimônio Natural de Mato Grosso do Sul (Repams), TV Cultura de São Paulo, Cenap/Icmbio, Museu Nacional da UFRJ, Fazenda San Francisco, Fazenda Miranda Estância, Fazenda São José, Fazenda Campo Lourdes, Fazenda São Bento e Fazenda Vale do Bugio.
Segundo Fernando, a reunião foi de grande valia. "Estamos analisando a possibilidade de criarmos estratégias a longo prazo que beneficiem os pecuaristas que optarem pela coexistência pacifica entre produtores e vida selvagem. A preservação da espécie é muito importante para a conservação da biodiversidade", relatou.
Destino turístico
No ano passado, veículos de comunicação nacionais e internacionais, incluindo o The New York Times, tradicional jornal dos Estados Unidos, e o canal de televisão Animal Planet, vieram a Mato Grosso do Sul produzir reportagens sobre o projeto Gadonça, na Fazenda San Francisco.
"Ao longo dos anos recebemos jornalistas e turistas estrangeiros que ficam maravilhados com a biodiversidade do pantanal sul-mato-grossense", disse Beth Coelho, proprietária da fazenda.
Beth afirma que muitos turistas estrangeiros vão até lá motivados pela causa da preservação ambiental e ficam admirados com os projetos de conservação desenvolvidos no Brasil.
De acordo com a World Conservation Union (União Mundial de Conservação), maior e mais importante rede de conservação do planeta, a população mundial de onças pintadas contabiliza aproximadamente 50 mil indivíduos e está prestes a traçar a mesma trajetória dos tigres da China e dos leões da África, que têm uma população bem menor do que as onças e altíssimo risco de se extinguirem.
Retorno
Iniciativas como esta, de aliar pesquisa científica ao ecoturismo, agregam valor ao turismo sustentável e vem se despontando no Estado. Desta forma, Mato Grosso do Sul vai aos poucos se consolidando como destino turístico internacional.
"As pesquisas científicas têm caráter estrutural e decisivo no desenvolvimento do Estado. Exemplos são dados em qualquer área do desenvolvimento e em diferentes nações. Países como Coréia do Sul, Índia e China são poucos exemplos os quais só deram saltos qualitativos de desenvolvimento por terem investido maciçamente em Ciência e Tecnologia. No Brasil, a despeito das dificuldades históricas, temos bons exemplos da Embrapa, na área de agronegócios, o COPPE (que transfere tecnologia para Petrobras) e o ITA, sem o qual não teríamos a Embraer", explica o superintendente de Ciência e Tecnologia da Semac, José Sabino.
Fonte: MS Notícias
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